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Afinal, a mulher idosa pode deixar de fazer mamografia?

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01/04/2020

 

Quando Janet Halloran passou em consulta pela última vez, a médica lhe perguntou se já tinha feito a mamografia anual. Ela disse que sim.

Aos 76 anos, a corretora de imóveis de Cambridge, em Massachusetts, já passou da idade recomendada pela maioria das diretrizes médicas de fazer o exame preventivo do câncer de mama para alguém sem histórico da doença. Mesmo para mulheres mais jovens, a orientação é fazê-lo ano sim, ano não.

Por isso, Halloran poderia até pensar em parar com as mamografias, ou pelo menos realizá-las com menos frequência, mas sua médica nunca levantou a possibilidade. "Ela diz que é uma daquelas coisas que a gente precisa fazer e não tem jeito. Além do mais, é fácil; uma vez por ano você vai lá, prende a respiração, rapidinho, pronto. É só rotina", diz.

Mas deveria ser assim para as mulheres mais velhas?

"Há muita incerteza. Essa é uma área com ausência total de triagens clínicas aleatórias", admite o dr. Xabier Garcia-Albéniz, oncologista e epidemiologista do RTI Health Solutions e principal autor de um novo estudo de observação que tenta responder a essa pergunta.

Como a pesquisa médica em geral, os estudos relacionados ao câncer de mama geralmente excluem os indivíduos mais velhos; a consequência disso é que os dados referentes à mamografia como meio de melhorar a sobrevivência de mulheres na faixa dos 70 aos 74 anos são muito limitados. Acima dos 75 anos, então, são inexistentes.

É por isso que a Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos EUA concluiu que, embora a mamografia feita em anos alternados aumente as chances de sobrevivência das mulheres entre 50 e 74 anos, há evidências "insuficientes" para avaliar sua utilidade para as que têm mais de 75.

A Sociedade Norte-Americana de Geriatria inclui esse exame e outros de prevenção do câncer em sua lista "Escolha Sensata" de testes que devem ser questionados. E pede aos médicos que não os recomendem sem levar em consideração a expectativa de vida e os riscos de sua realização em relação ao diagnóstico e ao tratamento "excessivo".

Apesar disso, mais da metade das mulheres com mais de 75 anos fez a mamografia (exame para aquelas que não têm histórico nem sintomas de câncer de mama) nos últimos dois anos, como registrou o Centro de Controle e Prevenção de Doenças em 2018.

"Se esse investimento todo altera os níveis de sobrevivência ao câncer é a questão crucial", diz o dr. John Hsu, pesquisador de serviços de saúde da Faculdade de Medicina de Harvard e principal autor do novo estudo, publicado na "Annals of Internal Medicine".

A equipe usou requisições feitas no Medicare de 2000 a 2008 para acompanhar um milhão de mulheres com idades entre 70 e 84 anos que tinham feito a mamografia. Elas nunca tinham tido câncer e mostravam uma "probabilidade alta" de viver pelo menos mais dez anos.

"Essa é a população que se beneficia com o exame, pois leva dez anos para o exame mostrar um nível reduzido de mortalidade", explica Garcia-Albéniz.

Os pesquisadores dividiram as participantes em dois grupos – um que parou com o exame e outro que continuou fazendo a mamografia a pelo menos cada 1,3 ano – e concluíram que o teste ofereceu um benefício de sobrevivência, ainda que modesto, às mulheres entre 70 e 74 anos. Alinhada com o estudo anterior, a análise concluiu que examinar mil mulheres dessa faixa etária poderia resultar, depois de uma década, em uma morte a menos por câncer de mama.

Já entre as de 75 a 84 anos, a mamografia anual não reduziu o número de óbitos, embora tenha detectado, como era de esperar, mais casos de câncer do que no grupo que parou com o exame. "O número de diagnósticos aumenta, mas isso não se traduz em benefícios em relação à mortalidade", diz Garcia-Albéniz.

Por que não? "Os cânceres podem diferir em idades diferentes. Podem evoluir mais rápido ou lentamente, ou ter mais probabilidade de se espalhar", explica Hsu.

Segundo o dr. Otis Brawley, oncologista e epidemiologista da Faculdade de Medicina da Universidade Johns Hopkins, autor do editorial que acompanha o estudo, o tratamento pode ser menos eficiente nas idades mais avançadas.

Entretanto, as pessoas mais velhas também estão sujeitas ao que os estudiosos chamam de "mortalidade concomitante": muitos dos cânceres detectados pela mamografia, tumores minúsculos que a tecnologia antiga não detectaria, têm poucas chances de causar prejuízos se não forem tratados. Porém a maioria das idosas tem outras doenças que progridem.

"É muito difícil dizer a alguém com 70 ou 80 anos que é preciso modificar o tratamento, ou nem iniciá-lo, porque as chances de que outra coisa mate a paciente antes do câncer são maiores", revela Brawley.

Essa relutância em discutir a expectativa de vida e as limitações do exame também significa que muitas mulheres não reconhecem que, além de ser inconveniente, cara e fonte de desconforto e ansiedade, a mamografia pode, de fato, causar prejuízos. Dependendo do caso e do resultado, leva a cirurgias desnecessárias, doses de radiação e medicação para cânceres que nunca teriam gerado sintomas ou encurtado a vida da paciente.

A dra. Mara Schonberg, internista do Beth Israel Deaconess Hospital de Boston, há anos se dedica a ajudar as mulheres a tomar decisões em relação à mamografia, e acha a missão difícil.

"Durante 40 anos, essas mulheres ouviram que tinham de fazer o exame. Elas se sentem tranquilas com um resultado negativo, e é muito difícil compreender que detectar um câncer de mama no início nem sempre vai ajudar a paciente a viver mais ou melhor", revela Schonberg.

Para ajudar a explicar, Schonberg desenvolveu um material que ajuda na tomada de decisão: um folheto em linguagem bem simples, que usa resultados de pesquisas para explicar os prós e contras.

Um estudo piloto mostrou que, depois de lê-lo, as mulheres entre 75 e 89 anos se mostraram mais informadas sobre a mamografia, mais aptas a discuti-la com seus médicos e menos entusiasmadas em continuar fazendo o exame. Mas não desistiram: mais de 60 por cento, incluindo aquelas com menor expectativa de vida, repetiram a mamografia dentro de até 1,3 ano. "Uma análise maior, com 546 participantes, quase pronta para publicação, exibirá resultados semelhantes", informa Schonberg.

Talvez, como Brawley afirma, "o mais importante seja fazer o público entender quais são as dúvidas e que ninguém tem as respostas exatas".

Fonte: NSC Total

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