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Promessa dos biossimilares no tratamento do câncer de mama

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30/07/2019

 

Ainda que as chances de cura de uma mulher que detecta o câncer de mama em fase inicial cheguem a 90%, no Brasil a realidade das pacientes não é tão otimista assim. Isso porque a maioria inicia o tratamento oncológico quando o tumor se encontra em estágio avançado ou até mesmo metastático, momento em que já se espalhou para outros órgãos do corpo.

De acordo com um estudo recém-publicado por pesquisadores brasileiros na revista científica The Lancet, baseado em um programa criado pelo Ministério da Saúde, no período de 2001 a 2014, ocorreram cerca de 247 mil casos de câncer de mama no país, sendo 40% em fases avançadas.

Dados coletados no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais evidenciam os grandes obstáculos enfrentados pelas pacientes com a doença para receber o tratamento no SUS. Eles vão da demora em si, que chega a 80 dias para liberação de um laudo de biópsia, a longas filas para realização de radioterapia. São atrasos prejudiciais ao tratamento e que podem diminuir as chances de cura.

No entanto, se antes um prognóstico de metástase soava como o fim da vida, hoje o cenário é diferente. As opções de tratamento estão mais eficazes e, embora a doença em fases avançadas possa ser incurável, a paciente já pode conviver com o câncer por muito tempo, mantendo qualidade de vida e autonomia.

O grande desafio é permitir às pacientes da rede pública acesso a medicações tão inovadoras como na rede privada. É dentro desse contexto que os medicamentos biossimilares podem se tornar uma alternativa promissora no país.

Quando falamos em biossimilares, nos referimos a produtos biológicos com custo menor e altamente semelhantes aos medicamentos originais de referência. Para seu desenvolvimento e liberação, são considerados dois pontos fundamentais: a qualidade do fármaco, que tem de ser rigorosamente comprovada por meio de extensivos estudos de comparação avaliando aspectos clínicos e não clínicos, e a questão econômica.

Um exemplo é o biossomilar do remédio trastuzumabe, recentemente aprovado pela Anvisa e que será comercializado por meio da parceria entre a indústria farmacêutica brasileira Biomm e a sul-coreana Celltrion Healthcare (CHTC). Trata-se de um anticorpo humanizado que, uma vez injetado no organismo, tem pouco efeito nas células sadias, mas apresenta a capacidade de bloquear a multiplicação de células cancerosas que apresentam grande quantidade de HER2 (proteína que atua na progressão das células mamárias doentes).

O medicamento é utilizado para o tratamento do câncer de mama em estágio inicial e metastático, e em diferentes fases da doença, podendo ser empregado antes ou após cirurgia, associado a quimioterapia, hormonioterapia ou a outro anticorpo, com possibilidade de administração inclusive durante a radioterapia. Além disso, o trastuzumabe pode ser usado em pacientes com câncer de estômago metastático com expressão da proteína HER 2, em combinação com quimioterapia.

No momento em que medicamentos com custo mais baixo do que os de referência entram no mercado, é esperado que a competição entre essas drogas estimule a baixa de preços aplicados, sendo favorável tanto para a saúde suplementar quanto para o SUS. A incorporação no sistema público viabilizaria um melhor gerenciamento dos custos de saúde e até mesmo a aquisição de outros tratamentos, redirecionando a quantia economizada para a compra de novas linhas terapêuticas.

Em relação aos biossimilares, estima-se que eles podem chegar 30% mais baratos que o medicamento de referência. Do ponto de vista numérico, a verba que é aplicada para tratamento de quatro pacientes poderia beneficiar cinco, sem perder a eficácia, a segurança e a resposta em sobrevida.

Embora o câncer de mama seja o tumor mais comum em mulheres e ainda seja diagnosticado tardiamente em boa parte das brasileiras, existe uma grande expectativa em relação à fabricação nacional de novas medicações, o que promoveria maior acesso a tratamentos cientificamente eficazes. Além da chegada dos biossimilares, uma maior abertura de estudos clínicos no país certamente aprimoraria o desenvolvimento e a acessibilidade a essas novas tecnologias.

* Dra. Carolina Martins Vieira é oncologista e médica do Núcleo de Hematologia e Oncologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais 

Fonte: Saúde é Vital

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