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O câncer e a autoimagem

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Todas as pessoas possuem uma representação de si que é única e dinâmica. Ela envolve um conjunto de valores e de crenças e, ao mesmo tempo, uma maneira de ver o mundo totalmente individualizada. Os médicos, infelizmente, ainda são incapazes de identificar e usar estas qualidades em favor dos pacientes. O fator humano por detrás de doenças graves e potencialmente mutilantes, como o câncer, pode interferir em diversos aspectos durante o período do tratamento. Não são poucos aqueles que desistem no meio do caminho, ou antes mesmo de o iniciarem. Com isso perdem a chance de cura. No câncer de mama, por exemplo, este é um elemento bastante sensível, pois o medo da mutilação e da perda da qualidade de vida pode afastar a busca de tratamento. Contudo, é necessário desmistificar esta doença, trazê-la para o cotidiano, sem criar monstros que muitas vezes são maiores do que na realidade são.

Talvez a maior perda que os pacientes tenham ao se defrontar com o câncer é a da perda de sua invulnerabilidade. A maioria de nós cremos ser imortais. Fazemos planos de longo prazo, como se tivéssemos controle absoluto sobre o nosso corpo. Quando chega a doença, ela traz a mensagem de que isso não é real. Então, como diz Rubem Alves, os nossos sentidos despertam. O corpo mostra toda a sua fragilidade e os sentidos, que estavam dormentes, acordam. Não somos mais nós mesmos. Pequenas coisas do nosso cotidiano passam a ter um sentido completamente diferente. Claro que, para alguém que cultua o corpo ou as aparências, a dificuldade de lidar com essa realidade é muito maior. O psicológico influencia nessa longa caminhada até a superação da doença. Nesse sentido, o médico, segundo o grande oncologista italiano Gianni Bonadonna (ele mesmo exprimiu isso em sua experiência como paciente), deve ajudar o paciente a encontrar o guerreiro que existe dentro de si.

A doença pode ser uma oportunidade de crescimento e de busca de valores fora da corporeidade e da superficialidade que a vida pós-moderna tem nos imposto. Em uma sociedade como a nossa, que cultua as aparências e que vive dentro de um vazio de relações líquidas, sem consistência e profundidade, como dizia Zygmunt Bauman, a doença é algo mais triste e bem mais difícil de ser enfrentada que no passado. Além disso, infelizmente, a maioria dos médicos não está preparada para ajudar seus pacientes a superar os seus medos e o seu sofrimento. Isso ainda está fora do nosso currículo e precisa ser revisto.

A doença atropela e o médico precisa saber identificar pelo menos alguns fatores que podem levar pacientes a ter imagens distorcidas dela e de si mesmos. Ajudar a superar os diversos lutos que aparecem no decurso da doença. E, no câncer, esses lutos são vários: o primeiro é quando existe a possibilidade da doença; o segundo é quando ela é diagnosticada; o terceiro é o decorrente do tratamento; e o último, das possíveis limitações que possam ser por ela impostas.

Assim, a autoimagem influencia muito. Inclusive na postura corporal dos pacientes e na sua aceitação dos resultados. Então, é claro que sequelas estarão presentes no curso da vida, mesmo após o período de tratamento, como uma ferida crônica. Ou então, como eu digo às minhas pacientes, ficam como fantasmas dentro do nosso armário. Minha sugestão: Deixe-os lá mesmo, onde incomodem pouco. Vivam cada dia. E cada dia melhor.

Cicero Urban, médico oncologista e mas­to­logista, é professor de Bioética e Meto­dologia Científica na Universidade Posi­tivo e vice-presidente do Instituto Ciência e Fé.
Em Gazeta do Povo

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